sábado, 24 de março de 2012

Uma reflexão sobre o Montepio Geral e António Costa Leal

Foi distribuído mais um "caderninho" informativo em finais de Maio, reportado a Abril.
Sob a manchete Montepio distingue três figuras tutelares com o 'Pelicano de Platina', o então Sr. Presidente do Montepio Geral "fez o elogio dos homenageados destacando, na obra realizada, sem paralelo em qualquer outro período da já longa história da mais antiga Associação Mutualista portuguesa, a ditosa memória do seu antecessor Costa Leal ... (este) foi o rosto e a alma refundadora do Montepio moderno (sic)"

Olhei para os anos 90 e comparando-os com o presente, senti uma tremenda vontade de gritar. Se o fizesse, ninguém me ouviria. Provavelmente dar-me-iam como louco ou instaurar-me-iam um processo disciplinar com vista a uma repreensão registada, o que está muito na moda!

Senti saudades de um homem com quem pessoalmente nunca convivi, nem tive a oportunidade de cumprimentar.
Senti saudades de um homem, um timoneiro, um líder, um humanista.. um homem que sempre soube dar-se ao respeito e sempre soube respeitar os seus colaboradores. Depois...

Desfolhei o livro "António Costa Leal", edição da Comissão de Homenagem a António Costa Leal.
Não fiquei surpreendido com o que pude ler: os 15 anos (1988 até 2002) que acompanham o mandato deste homem genial são 15 anos de ouro para o Montepio Geral e para a sua Caixa Económica.
Passo a citar.
"O número de associados multiplicou-se por 10;
 O activo líquido da Associação Mutualista por 20, ultrapassando os mil milhões de euros;
 Os depósitos de clientes por 7;
 O crédito por 10;
 O número de balcões por 10;
 O número de trabalhadores duplicou" (pg. 108).

Estes números nunca implicaram um "olhar só para o umbigo do homem ou da Instituição", postura que não estava na agenda nem na personalidade de António Costa Leal.
Este líder sempre soube ser líder, sempre soube reconhecer o valor dos seus homens, sempre soube distribuir por eles um pouco do crescimento e do reconhecimento do Montepio Geral.
Com António da Costa Leal não era preciso o chicote, o clima do medo, o "chafurdar" na vida pessoal dos trabalhadores para os ter na mão, a publicação truncada das decisões dos processos disciplinares levantados a trabalhadores por "aquela palha", os prémios e subsídios para criar a divisão (sob a falsa capa de fazer justiça ou de reconhecimento do mérito), o lançar da discórdia, da desconfiança, ... antes pelo contrário, ... Com António Costa Leal tudo era transparente, mais sadio, mais justo, mais equitativo.

Em termos económicos para as famílias e financeiros para as empresas, os anos de 1993, 1994 e 1995 foram tão críticos e tão terríveis como os actuais... provavelmente mais críticos e mais terríveis! Muitas mais empresas falirem então que hoje!...
Tanto nos anos de crise como nos anos de desafogo, com António Costa Leal, os salários e o poder de compra dos trabalhadores do Montepio Geral sempre acompanharam o crescimento da Instituição. A nossa tabela interna afastou-se para mais cerca de 25% da tabela dos Sindicatos.

Nos 15 anos de governação Costa Leal por um homem leal, a Instituição ganhava, o CA ganhava, os trabalhadores ganhavam.
Hoje só alguns, e poucos, é que ganham...  Os trabalhadores assistem inertes, traumatizados pelo medo, a uma diminuição do seu vencimento base, transformado parte em complemento de mérito, que o CA pode a qualquer momento tirar (vejam as Leis do Trabalho), ao desaparecimento de vários subsídios, a uns míseros aumentos anuais (de 1,5% a 1,75%) que coram de vergonha qualquer pessoa decente.

Assiste-se no Montepio Geral a uma pensada, calculada e posta em prática destruição de valores internos. Pensa-se de noite, na sombra, o que fazer no dia seguinte.
Solidariedade, democraticidade, equidade, justiça, respeito pelo outro... não existem, são letra morta.

O crescimento que assistimos é forçado, tem pés de barro, a continuar, vai levar o Montepio Geral e a sua Caixa Económica à falência... o apetecível prato tão esperado pela La Caixa ou por qualquer outra Caixa espanhola ou mesmo alemã, dado de bandeja. Muito provavelmente é para aqui que o Montepio Geral caminha.
Veja-se só um exemplo: reclama-se que a Caixa Económica não tem recursos, mas abre-se a torneira do crédito a jorros, com campanhas "é na minha casa ou na tua" e outras relativas ao crédito auto, ao crédito individual CIPA, ao crédito de plástico, ao crédito conta ordenado, etc.

Creio que presentemente o Montepio Geral não caminha ombreado pelos valores, sejam morais, sejam económicos. Caminha à deriva, a vestir-se de modas (a própria cor laranja e logotipo são modas), a viver imitando, mas muito mal, os outros Bancos, sendo ou tornando-se muito pior que eles.
Nos anos 85 a 95 o Montepio Geral criticava a ferocidade de estar no mercado dos novos Bancos privados: hoje o Montepio Geral está no mercado mais feroz que esses Bancos. Mais "cobrador" dos seus clientes (associados na sua maioria) que estes Bancos, mais desrespeitador dos seus trabalhadores que esses Bancos.

É de ter dó... é de exclamar:  foi para isto que há 33 e 34 anos nos associamos e vestimos a camisola do Pelicano?

(O Montepio em Maio de 2008)
António Porto / Luis Antunes

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